As Pérolas dos Professores
- Arthur Souto

- 17 de set.
- 2 min de leitura
A mais nova crônica de Arthur Souto, faz uma reflexão sobre o valor silencioso da profissão docente, comparando cada esforço, aulas, conselhos e correções, a pérolas oferecidas sem garantia de reconhecimento.
Entre o descaso e a burocracia, muitos professores duvidam do impacto de sua dedicação, mas descobrem que as verdadeiras joias permanecem na memória e na vida transformada de seus alunos. Por que ser professor é semear brilho, confiando que suas pérolas encontrarão quem saiba valorizá-las.

Dizem que não se deve jogar pérolas aos porcos. A cada vez que releio essa frase, penso nos professores. Não porque seus alunos sejam “porcos”, longe disso, mas porque, muitas vezes, a profissão nos obriga a lançar nossas pérolas sem saber se alguém as verá como preciosas ou se apenas serão pisoteadas no descuido da vida.
Cada aula preparada na madrugada, cada correção feita no ônibus entre uma escola e outra, cada conselho dado no corredor, tudo isso são pérolas. Pequenas, sim, porém brilhantes. Só que o tempo passa, e muitos professores chegam ao fim da carreira com a dolorosa sensação de que suas pérolas não foram vistas, não foram acolhidas e principalmente: não foram valorizadas.
É duro perceber que o brilho que oferecemos tantas vezes se perdeu em meio ao descaso, à burocracia e à pressa do mundo moderno. O professor envelhece com a voz gasta e a coluna torta, e ainda assim, olha para trás e se pergunta: "Valeu a pena?"
Possa ser que estejamos olhando para o lugar errado. As pérolas não estão na gaveta da escola, nos relatórios ou nos índices de aprovação. Elas estão no olhar de um ex-aluno que, anos depois, cruza nosso caminho e diz: “Professor, foi por causa de uma frase sua que eu não desisti.” Estão no sorriso tímido daquele estudante que finalmente entendeu a matéria. Estão na coragem que muitos carregaram para enfrentar o mundo porque um educador acreditou neles antes que acreditassem em si mesmos.
Os porcos existem, é verdade. O desdém, o salário injusto, o sistema que insiste em não enxergar o valor da profissão, tudo isso tenta roubar o brilho das pérolas. Contudo o fato é que nenhuma pérola se perde quando brota de um coração sincero. Pode ser ignorada no momento, entretanto, cedo ou tarde, encontrará quem saiba reconhecer sua beleza.
Ser professor é isso: ofertar pérolas sem garantias, sabendo que algumas cairão na lama, porém outras se tornarão joias guardadas para sempre na memória de alguém.
E no fundo, talvez seja essa a recompensa silenciosa da educação: a certeza de que, mesmo cansados e muitas vezes descontentes, fomos capazes de deixar rastros de brilho no mundo.
✍️ Escrito por: Arthur Souto
📚 Autor de: Pé de Menina, O Tumbeiro (Prêmio Book Brasil 2024), A Fada do PIX (Prêmio Ecos da Literatura), Minha vida em versos e flores.
🎉 Lançamento do livro mais divertido do ano: Tonha, a barraqueira.
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