Avaliação 360° – A volta dos que não foram com a sua cara
- Mundo Encantado dos Livros
- 10 de jun.
- 3 min de leitura
Com a implementação da Avaliação 360° em uma escola pública, onde todos — alunos, professores, coordenadores e diretores — avaliam uns aos outros. O que deveria ser um exercício de crescimento profissional se transforma num ciclo de vinganças, ressentimentos e colapsos emocionais. O ambiente escolar vira um caos, comparado a um “Big Brother pedagógico”, onde a harmonia dá lugar à desconfiança e ao esgotamento.

Na última inovação da Secretaria da Educação, decidiram que a melhor forma de promover o amor e a harmonia na escola seria... colocar todo mundo para avaliar todo mundo. Genial, né?
A ideia parecia saída direto de uma palestra de coaching: Avaliação 360°. Bonito, moderno, sofisticado. Só esqueceram de avisar que o “360” era porque ia dar um giro completo no caos e voltar para o mesmo lugar: só que pior.
A proposta era simples: professores avaliavam coordenadores, que avaliavam diretores, que avaliavam professores, que avaliavam até a planta na sala da secretaria. E mais bonito estava em:
ALUNOS AVALIANDO TODO MUNDO.
Um círculo vicioso de julgamento coletivo. Era quase um Big Brother Pedagógico, só que sem prêmio e com Reuniões Pedagógicas obrigatórias.
No primeiro mês, o clima era de falsa maturidade. Frases como “É um exercício de crescimento profissional, vamos encarar com empatia” circulavam pelos corredores com a mesma sinceridade de quem diz “prometo que vai ser só um gole”.
No entanto... contudo... porém... mas bastou sair o resultado pra descer o espírito do Game of Thrones na escola. Muitos seriam degolados...
O diretor, que andava de prancheta na mão e ar de CEO da educação pública, levou uma nota tão baixa que nem com Conselho de Classe passava. Trancou-se na sala da direção e gritou para quem quisesse ouvir:
— Ingratos! Eu dei a vida por esta escola! Cadê os aplausos?!
Saiu mandando zap para geral, com frases passivo-agressivas como: “Favor comparecer à direção com urgência. Traga o caderno de registro.”
Já os coordenadores, que tinham mania de andar com cara de quem lê Paulo Freire em latim, resolveram retaliar. Começaram a invadir salas de aula em horários aleatórios, anotando tudo com cara de fiscal da Receita Federal. O professor tossia, eles anotavam. O professor respirava fundo, eles balançavam a cabeça e anotavam também.
E os professores? Ah, os professores… descobriram que os alunos deram avaliações piores que boletim de recuperação. Eita lasqueira!!!
O professor de História tirou 1,5 porque os alunos achavam que Napoleão era o criador do Napolitano e ele “não explicou direito”.
A professora de Matemática levou zero em empatia porque não aceitou 3+3=7 como "opinião válida". Uma verdadeira injustiça, onde já se viu isso?!
O resultado? Sala de aula virou um velório pedagógico. Professor olhava para os alunos com a mesma empolgação de quem encara boleto vencido. A aula começou a ser só:
— Página 42. Façam. Quem terminar... faz silêncio... por favooorrr...
E silêncio teve. No entanto era um silêncio triste, tipo de casamento em crise.
Os alunos, antes cheios de graça, agora estavam mais arrependidos que quem briga com a mãe e depois precisa pedir ajuda para fazer o arroz. Até tentavam puxar assunto... porém o professor já estava emocionalmente exonerado.
Nos corredores, os grupos de WhatsApp da escola se transformaram em zonas de guerra. Surgiram subgrupos, sub-subgrupos e um canal secreto onde todo mundo fingia que era só “pra trocar ideias sobre metodologias ativas”. Mentira. Era só para falar mal das notas recebidas.
E no meio desse caos generalizado, sabe quem saiu ganhando?
Óbvio que foi o amado e estimado Secretário da Educação.
Agora ele pode vender a escola a preço de banana. O prédio continua lá, mas o espírito coletivo morreu soterrado sob gráficos coloridos e frases de autoajuda. Com todo mundo se odiando, ficou fácil fechar a escola, terceirizar a gestão e transformar tudo num coworking.
Chamaram isso de “modernização do ensino”. A gente chama de rolo compressor com PowerPoint.
E assim seguimos, girando no 360 da discórdia, sem saber se o próximo passo é aula ou reality show.
Escrito por: Arthur Souto
Instagram: @mundo_encantado_dos_livros
Autor de: Pé de Menina
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Minha vida em versos e flores




Uma triste realidade 😥