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Crônica Tragicômica de uma Sacanagem Institucionalizada

  • Foto do escritor: Mundo Encantado dos Livros
    Mundo Encantado dos Livros
  • 23 de jun.
  • 2 min de leitura

Na fictícia Desumanópolis, um governador sem empatia e com nome sugestivo — Tira-Tudo — decide confiscar parte da aposentadoria dos servidores públicos sob o pretexto de “otimização da esperança previdenciária”.

Uma narrativa que, entre risos e indignação, revela a triste realidade de quem trabalhou a vida inteira e, no fim, recebe como pagamento o descaso institucional.

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Em Desumanópolis, capital da insônia crônica e do cafezinho aguado, reinava um sujeito pálido, de terno sempre maior que a coragem e sorriso menor que a empatia. Seu nome oficial era difícil de lembrar, contudo todos o conheciam como Governador Tira-Tudo, Marquês do Desconto Forçado, Duque da Previdência Seletiva, Barão do Calote Legalizado.


Ele não governava, passava débito automático.

Num fim de tarde nublado, em reunião com seus conselheiros (também conhecidos como planilhas do Excel), Tira-Tudo teve uma epifania, e decretou:


— Ora, ora... professores aposentados ainda comem? Ainda compram pão? Ainda têm luz elétrica? Isso precisa acabar!


E assinou o Decreto 666: “Redução emergencial dos privilégios alimentares dos servidores aposentados”, ou como o povo chamou, "o confisco da dignidade em 12 parcelas sem choro nem vela."


No dia seguinte, Dona Sebastiana, professora aposentada de Geografia, olhou o contracheque e pensou que fosse erro de digitação.


— Mas uai... cadê meus duzentão? — questionou a pobre coitada, já buscando seus florais para acalmá-la.


— Foram passear com os direitos trabalhistas, dona Seba — disse o neto, cheio de ironia.


Já Seu Arlindo, professor de Biologia, decidiu protestar vendendo banana em frente à Secretaria da Fazenda com uma faixa: “Ensinei mitose, hoje como arroz com vento.”


🎶 E o povo cantava nas ruas:

"Tira do lápis, tira do quadro,

Mas não tira do banqueiro que vive de agrado!"

🎶


O governador, quando questionado, respondeu com seu bordão preferido, em tom calmo, com voz de “grileiro arrependido”:


— Não é corte, é otimização da esperança previdenciária.


E foi pra casa em seu carro blindado, ouvindo podcast de meritocracia e tomando água mineral com pH superior a 9.


Enquanto isso, nas quebradas, o novo TikTok da terceira idade bombava:


@SebaResiste, com vídeos como:


“Como sobreviver com R$ 1,99 por dia e ainda pagar o boleto do gás”


Na rua, as manifestações cresciam. Cartazes diziam:


🪧 “Trabalhei 35 anos, ganhei uma notificação.”


🪧 “Reforma foi tanta que virou demolição.”


🪧 “Governador, devolve meu miojo!”


E o povo, ainda que na lona, zombava, resistia, criava:


— Se ele pensa que a gente vai calar, tá mais por fora que aluno no plantão de dúvidas!


E o final?


Ah, o final é esse aqui:


Dona Sebastiana segue fazendo pão de vento e café de intenção.


Seu Arlindo dá aulas de biologia para baratas (porque são os únicos seres vivos que sobram em sala abandonada).


E o Governador Tira-Tudo? Continua sorrindo em campanha presidencial, dizendo que valoriza o servidor.


No entanto a gente sabe que quem tira do prato de quem ensinou a ler, escreve o nome no rodapé da história, com corretivo vencido e caneta sem tinta.


Escrito por: Arthur Souto


Instagram: @mundo_encantado_dos_livros

Autor de:

Pé de Menina

O Tumbeiro (melhor romance de 2024 pelo Prêmio Book Brasil)

A Fada do PIX (primeiro lugar pelo Prêmio Ecos da Literatura)

Minha Vida em Versos e Flores

 
 
 

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