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O Desespero do (Des)Governo

  • Foto do escritor: Arthur Souto
    Arthur Souto
  • 28 de jul.
  • 3 min de leitura

Numa floresta chamada Paulistânia, um governo vaidoso e desconectado da realidade aposta em tecnologia e prêmios em dinheiro para melhorar a educação. Enquanto os Esquilos Estudantes se animam com moedas, os Professores Tatus, exaustos e desvalorizados, recusam-se a colaborar com a farsa meritocrática. Optam por ensinar com ética, mas sem alimentar ilusões. No fim, os resultados não mudam, e o desgoverno entra em colapso. A floresta aprende, lentamente, que transformação real nasce do propósito, não de promessas douradas.

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Era uma vez, numa vasta floresta chamada Paulistânia, um reino governado pelo Pavão, o vulgo Cara de Jaca, um forasteiro, vaidoso e agitado. O seu secretário da educação, a raposa Fedorenta, era obcecada por números, gráficos e relatórios coloridos que mostrassem o quanto sua gestão era magnífica. Para isso, contratou corujas consultoras, construiu plataformas tecnológicas de ouro e espalhou totens falantes por toda parte, na esperança de que seus súditos, os pequenos Esquilos Estudantes, aprendessem mais e melhor.


No entanto, o tempo passou, e os números continuaram... baixos, baixíssimos. As plataformas brilhavam, mas ninguém usava. Os totens falavam, porém ninguém escutava. Os Esquilos estavam cansados, confusos e desmotivados. E os Professores Tatus, que cavavam conhecimento com esforço e paciência, estavam exaustos, cobertos de terra e sem reconhecimento.


— Algo precisa ser feito! — gritou Fedorenta, num dia de crise, enquanto observava seus índices despencarem como folhas secas no outono.


Foi assim que uma de suas corujas teve uma ideia, talvez uma última carta na manga.

— Secretário, e se dermos cem moedas douradas para cada Esquilo que alcançar um bom desempenho nas Provas do Reino?


Fedorenta bateu palmas de alegria:

— Magnífico! Assim todos vão correr atrás dos resultados. É motivação! É meritocracia!


E assim foi decretado: cem moedas para quem acertasse o alvo. Os mensageiros espalharam a novidade por toda a floresta. Os Esquilos se animaram. Cem moedas era muito! Todavia os Professores Tatus ficaram em silêncio. Eles sabiam que não se colhe frutos bons em terra seca. E a educação estava exaurida.


Um velho Tatu chamado Baltazar reuniu outros professores numa clareira e disse:


— Irmãos, querem usar nossos corpos como alavanca, mas nos tratam como ferramentas descartáveis. Querem que empurremos os Esquilos para saltarem obstáculos, quando mal têm forças para se levantar. E agora, jogam moedas como quem joga milho para galinhas. Não enxergam que o problema não é a falta de incentivo, mas o excesso de ilusão.


Os Tatus decidiram algo inusitado: fariam o mínimo. Cumpririam suas obrigações com ética, mas sem dançar a música da Fedorenta. Não dariam treinamentos extras, não corrigiriam simulados fajutos, não fariam propaganda da corrida por moedas. Apenas ensinariam como sempre fizeram: com verdade.


O tempo passou. As provas vieram. E os resultados… estagnaram.


Pavão e Fedorenta entraram em desespero.  O despenado gritou, bateu as asas, culpou os ventos, os mapas e até as borboletas. Contudo nada adiantou. Percebeu, tarde demais, que não se educa com prêmios, nem se muda uma floresta com decretos apressados.


Os Professores Tatus seguiram firmes, plantando sementes silenciosas. E os Esquilos, aos poucos, começaram a aprender a valorizar a busca pelo saber, não pelo ouro.


Moral da história:


Quem governa com moedas, colhe números frios. Quem ensina com propósito, colhe transformação.



✍️ Escrito por: Arthur Souto


📚 Autor de: Pé de Menina, O Tumbeiro (Prêmio Book Brasil 2024), A Fada do PIX (Prêmio Ecos da Literatura), Minha vida em versos e flores.


📸 Instagram: @mundo_encantado_dos_livros

🔗 Blog: mundoencantadodoslivros.blogo


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